Era uma vez uma plebeia que sonhava em ser princesa, mas ela sabia que não tinha nascido para ser princesa. Ela não era nada delicada, vaidosa ou graciosa como as princesas deveriam ser, – nem as unhas ela tinha tempo ou dinheiro para fazer – mas ela precisava sobreviver e conseguir seu espaço no reino, por isso, quando chegou a vida adulta, decidiu que conquistaria através de suas próprias mãos e não pelo seu casamento.
Ela cortou o cabelo, colocou uma armadura e começou a guerrear. Brigou com dragões, ogros, assassinos que tentaram matá-la com um golpe certeiro no coração e chegou até a salvar algumas princesas indefesas rindo da ironia em sempre sonhar ser um dia assim.
Depois de tantas lutas, ela não era mais a mesma. Carregava sangue nas mãos e culpa no coração, se achava indigna e incapaz de amar. Mesmo assim, se tornou uma das melhores “cavaleiros” do reino.
Certo dia, o Rei resolveu agradecê-la por tantas vitórias e decidiu fazer um baile com um grande jantar em homenagem a ela. Ninguém a via mais com uma mulher. Ela era uma guerreira do reino, premiada e vista como um dos homens que protegiam a corte e todos os moradores de lá.
Em certo momento do baile, o Rei parou os festejos e chamou o bobo da corte para uma apresentação especial. A plebeia, agora guerreira, nunca se divertiu tanto como com aquele espetáculo. O bobo era tudo o que ela não era capaz de ser. Todos olhavam pra ele, riam com e por causa dele, ele conseguia fazer de qualquer ambiente um lugar mais leve e tranquilo e pareciam que todos os presentes da corte adoravam a sua presença.
Após o show, o bobo foi para seus aposentos e voltou ao baile, agora vestido sem suas vestes de trabalho e resolveu conhecer aquela homenageada improvável – afinal se tratava de uma mulher – que ele sentia, lá no fundo, já conhecer de algum lugar.
Sentou ao lado dela, puxou algumas risadas e a chamou para dançar. Ela nunca havia se divertido tanto antes, mas não sabia como demonstrar. Ele resolveu a levar em casa mas ela não imaginava que ele a via e a queria realmente como ela era, por isso, nem um beijo, naquela noite – mesmo ambos desejando – conseguiram concretizar.
Algumas semanas se passaram e o bobo e a plebeia passaram a se encontrar com frequência, mas eram muito diferentes. Todos percebiam isso. Ele, acostumado as mulheres elegantes, ao luxo e as facilidades da corte. Ela, tendo que enfrentar lutas complicadas e acostumada a ser vista só como mais um cavaleiro na multidão.
Só que a paixão inexplicavelmente cresceu, eles haviam descoberto o amor na pessoa mais improvável, para eles e para a corte. A corte que era o ambiente do bobo não conseguia se adaptar aquela mulher “cavaleiro”. Os cavaleiros – os amigos e o ambiente da plebeia durante anos – questionavam essa relação.
Mesmo contra tudo dizendo que eles não poderiam dar certo juntos, resolveram casar.
No primeiro ano, o bobo tinha muita admiração pela sua esposa guerreira mas começou a se questionar o papel dele na relação e foi perdendo o brilho da sua alegria. A plebeia, ao mesmo tempo, amava e não acreditava que existia alguém mais lindo que seu bobo, mas não conseguia se adaptar ao novo papel que deveria desempenhar na corte e não sabia como se portar naquela situação.
Por conta disso, se distanciaram e afastaram seus corações.
Algumas semanas se passaram e chegou a notícia a corte que a plebeia guerreira tinha sido aprisionada pelo pior dos dragões do reino. Ela iria perder tudo que tanto lutou para conquistar. O bobo, horrorizado com os boatos, resolveu pedir uma conferência com o Rei e a Rainha para poder se ausentar de suas funções e lutar pela sua plebeia.
O Rei e a Rainha não entenderam os pedidos do bobo. Como ele, logo ele, poderia salvar a guerreira do Dragão mais temido do reino? E como ele poderia ir atrás dela, sendo ela tão diferente do papel de importância que ele tinha na corte?
O bobo começou a contar os momentos que viveram, a história que eles tinham tido e tudo o que ela representava para ele. Aquela foi a primeira vez que o Rei e a Rainha entenderam o que realmente acontecia. O bobo ao se unir a guerreira e tudo o que existia nela, o tornava um príncipe guerreiro e a plebeia, graças ao olhar alegre e extrovertido do bobo, se tornava a princesa que sempre sonhou em ser.
O Rei e a Rainha enxergando isso de forma mais clara autorizaram a ida do bobo, mesmo com medo de perdê-lo, deram todo o apoio e disponibilizaram seus melhores guerreiros para acompanharem ele na luta pelo seu verdadeiro amor.
O bobo vestiu uma armadura, empunhou uma espada de fio corte, montou em um dos cavalos mais imponentes do reino e seguiu seu caminho para enfrentar o dragão. Lá chegando, ele não sabia bem o que fazer. Ao ver sua plebeia deitada, machucada, ferida e destroçada, gritou “Minha guerreira, eu vim para nos salvar”. Ela, ao ouvir a voz do bobo, olhou na direção da voz e não acreditou no que via. Seu bobo agora aparentava um príncipe e ela se sentia apenas uma princesa indefesa necessitando ser salva por suas mãos.
Ao perceber que o bobo estava perdido dentro daquela nova situação, a plebeia se encheu de força e começou a gritar pra ele o que fazer. Ele ria enquanto ouvia suas diretrizes, ela continuava a mesma mandona independente da outrora separação. Só que, ao contrário de antes, quando eles se afastaram, eles decidiram que iriam unir forças para vencer o dragão. Ela agora era a voz e ele era o braço em ação.
O Bobo depois de muita luta conseguiu golpear o dragão mortalmente, feriu ele bem no coração e conseguiu salvar – agora – sua princesa indefesa. Em seu papel de príncipe a pegou no colo, colocou-a no cavalo e a levou para curar suas feridas no reino e perto do seu coração.
O reino – ao ver a chegada da plebeia e o bobo e a força que eles tinham juntos – festejou a volta do casal.
Dois anos se passaram e a plebeia deu a luz ao primeiro filho do casal. Meio bobo, um pouco da corte, meio plebeu, um pouco guerreiro e graças a isso, nunca existiu um reino tão forte e feliz como o reino da plebeia guerreira e seu bobo.