Mulheres e o aperfeiçoamento das 7 deusas interiores

Os homens, aqueles mesmos que criaram a mitologia grega e romana, questionam – muitas vezes – as mulheres contemporâneas. Se pensarmos um pouco as mulheres de antigamente evoluíram a um status que buscam ser mais do que simplesmente uma deusa, elas querem um pouco de cada deusa que o próprio imaginário masculino idealizou.

Curiosamente, na “numerologia” cristã o número 7 (sete) representa a perfeição e, novamente, curiosamente (ou seria propositalmente) as mitologias representam as mulheres em 7 (sete) deusas.

Para quem não conhece darei uma percepção do que representa cada uma das 7 (sete) deusas usando os nomes gregos e romanos para os ambientarem:

  • Artêmis ou Diana: é a representação atlética e “sustentável” da mulher.
  • Atenas ou Minerva: representa a sabedoria, a mulher profissional.
  • Héstia ou Véstia: a amiga, a hospitaleira, a exímia dona de casa.
  • Hera ou Juno: representa o lado feminino político, líder e apegada a moralidade.
  • Deméter ou Ceres: representação do lado materno feminino.
  • Perséfane ou Coré: representa o lado espiritual e a busca pela espiritualidade feminina.
  • Afrodite ou Vênus: a feminilidade, a sensualidade / sexualidade e, finalmente, o amor feminino.

Quem olha e analisa as 7 deusas provavelmente pensa que a mulher que domina essas sete deusas internas é a mulher perfeita, ou a ideal como alguns referenciam.

Provavelmente as mulheres da Grécia ou da Roma antiga se espelhavam nelas e, quando tinham mais afinidade como uma deusa que o tabu machista imperava, clamavam e montavam oferendas a elas como forma de evidenciar mais claramente esse focos em si mesmas. As políticas, oferendas a Hera, as sábias e intelectuais buscavam Atenas e assim por diante. Assim, conseguiam convencer os homens a deixá-las espreitar por áreas que não eram consideradas femininas e pela mitologia popular conquistaram muitas portas novas as mulheres contemporâneas.

Mas alguma coisa nesse caminho se perdeu. Talvez a mulher não se contentou mais em ser somente representante de uma das deusas. Talvez os homens exigiram que para seguir uma outra deusa “tabu”, era necessário que seu lado Afrodite (sensual), Deméter (mãe) e Héstia (companheira) continuasse em voga mesmo após a busca de outras áreas. Para desenvolver esse lado que amava, as mulheres de antigamente cederam a pressão masculina e passaram a agregar mais deusas dentro de si. Vai saber…

Até que chegamos – finalmente – ao século XXI com mulheres buscando incansavelmente as 7 deusas perfeitas em sua vida com uma dose de cobrança masculina nessa busca pelo Santo Graal.

O que muitas pessoas provavelmente esquecem é que, mesmo sendo deusas, cada uma delas tinha suas imperfeições. Artêmis era vingativa e cruel, Atenas não pode ser considerada vaidosa e isso lhe conferia uma imagem masculinizada e, além disso, era desconfiada e desinibida. Héstia não tinha ambição e ímpeto, Hera era ciumenta e lida a perda com raiva, Deméter é carente e depressiva, Perséfane é passiva e insegura – a eterna mulher a espera do príncipe encantado para resgatá-la – e finalmente Afrodite que pode ser considerada volúvel e maquiavelica por muitos, era a “periguete” de nossos tempos.

Provavelmente cada mulher verá mais em si de uma deusa ou outra mas por mais que tentemos é praticamente impossível agregarmos as 7 deusas interiores com perfeição e maestria sem apresentarmos muitas dessas características negativas.

Seria dar murro em ponta de faca tentar incessantemente representar as 7 deusas em uma única mulher já que, ao meu ver, as mulheres idealizadas para o Olimpo parecem tanto espelhos de mulheres como eu e muitas outras, mas cada uma em sua representação icônica e não um agregado de todas em um corpo de mulher.

Concordo que a busca pela perfeição e desenvolvimento tem que fazer parte de nossas vidas mas muitas mulheres se frustram por não conseguirem alcançar o tamanho feito de ser a “Deusa das deusas”. Da mesma forma, muitos homens desencantam por suas deusas por encontrarem uma outra faceta “endeusada” em outras mulheres, até descobrirem que falta em uma, é encontrada na outra e assim vivemos o ciclo do “o jardim do vizinho é melhor que o meu”, ou seria melhor dizer: “a deusa do lado é melhor que a minha”. Até quando será assim?

Cada mulher tem uma deusa dentro de si e por isso mesmo tem que prestar oferendas aos poderes concedidas a si própria.  Óbvio que tem uma deusa que representa melhor quem sou mas não condeno nenhuma das outras deusas e continuarei as buscando em meu dia a dia para um aperfeiçoamente de quem sou. Só que entendo que cada deusa tem seu papel no Olimpo e isso que traz a perfeição, o conjunto de cada uma delas exercendo sua função pátria e colaborando uma com as outras ao invés de buscarem a perfeição de todas elas em si mesmas geram frutos heróicos em nossas concepções semideusas.